Quando ouvi que a partir de meados de março teríamos de ficar em casa, pensei que seria uma missão fácil para mim, uma pessoa que queria sempre ficar sempre em casa. Mas quanto mais tempo passava mais perto chegava à conclusão que só queremos aquilo que não podemos ter. Tinha liberdade para sair à rua e não queria sair, tinha liberdade para ficar em casa e não queria ficar.
Mas, mesmo que pudesse e quisesse sair à rua, seria impossível fazê-lo. A escola fez um bom trabalho a manter-nos em casa, digamos um pouco ocupados: trabalho após trabalho após trabalho após trabalho, uma enchente de tarefas, seguida ainda por um tsunami e depois um dilúvio deles. Assim que chegamos ao fim, a acreditar que já não há mais trabalhos, vem mais um, dois, três, quatro… pestanejamos por um segundo e já lá está o quinto. Em tempos, não saía porque não tinha energia para sair, e agora nem energia para ficar em casa tenho.
Depois, de um momento para o outro, o ministério da educação decide meter-nos novamente na escola no papel de ratos de laboratório. Quilos de desinfetante, máscaras em todos os rostos, a escola, que estava sempre a abarrotar, agora parece um deserto, antes ficávamos todos enlatados como sardinhas, agora ficamos a metros de distância uns dos outros, horas fechados numa sala, com apenas as janelas lembrar-nos que, lá fora, há ar fresco. Vivemos um cenário pós-apocalíptico, algo cinematográfico, uma prisão… e continuamos fechados, agora na sala de aula. E eu a querer sair.
Ao menos, só tenho de fazer um exame.
Texto de Carolina Carvalho, 12º B
Ilustração "Tempo de Calamidade", de Daniel Estevão
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